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CONHECE-TE A TI MESMO …

Foi em Delfos, há aproximadamente 2.500 anos, que a pitonisa do templo do deus Apolo disse que Sócrates era a pessoa mais sábia no mundo. Quando soube disso, através de seu amigo Querefonte, Sócrates achou estranho. Ele se considerava um homem comum que apenas buscava o conhecimento verdadeiro. Intrigado, este filósofo que foi mestre de Platão, teria dito: “Só sei que nada sei”. Vale lembrar que no pórtico de entrada deste templo estava escrito “conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses”.

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Esta frase, talvez uma das mais conhecidas da história, era vista como como um oráculo de Apolo para a humanidade. A partir do autoconhecimento você poderá conhecer a verdade sobre o mundo.

Muitos devem se lembrar de Neo, personagem de Keanu Reeves em Matrix, quando ele está diante da entrada que leva ao oráculo. Na entrada lia-se “Temet Nosce“, em Latim, mas, caso fosse optar por maior realismo, o diretor de Matrix deveria ter colocado a frase em grego. Algo como Μάθε τον εαυτό σου

Entretanto, deixemos o preciosismo de lado e sigamos na antiga Grécia. Sócrates, que rechaçava a ideia de ser considerado sábio, continuou sua jornada pelas ruas de Atenas questionando as pessoas, muitas delas reconhecidas por sua sabedoria, sobre temas como a virtude, a coragem e a justiça, na esperança de que pudessem lhe mostrar o verdadeiro conhecimento.

Com o tempo Sócrates de seu conta de que tais pessoas sabidas tinham na verdade preconceitos. Certezas que partiam de interpretações rasas e parciais. Ele compreendeu então o significado do oráculo de Delfos, pois se aprofundava no autoconhecimento, acolhendo sua ignorância e, com isto, abria as portas para conhecimento verdadeiro sobre o mundo e os outros.

Autoconhecimento requer coragem e humildade. Antes de ser um resultado, é uma atitude que dá início a um processo de autoconsciência que nunca tem fim. Por isso eu vejo autoconhecimento como um exercício constante e como um pilar fundamental no processo psicoterapêutico, por exemplo.

Sabemos que Sócrates iniciou uma corrente de pensamento que privilegiava a razão, mas eu acho que o autoconhecimento não é puramente racional. Não se trata apenas de se tomar consciência das próprias crenças, valores, padrões comportamentais, traços de personalidade ou visão de mundo, mas de reconhecer humildemente que seus sentimentosemoções sofrimentos são também formas de expressão que partem de você, portanto, precisam ser acolhidas e compreendidas, ao invés de rechaçadas como objetos estranhos.

Nós vivemos num mundo onde predomina a visão utilitária, que mede a nossa capacidade de produção e de aquisição de bens materiais. Sintomas relacionados à síndrome do pânico, à depressão ou ao burnout, paralisam momentaneamente esta capacidade, portanto a lógica dominante é: CONSERTAR, não compreender. Já que esta compreensão pode nos tomar mais tempo do que fazer um remendo rápido para voltar a produzir.

Claro que é justo querer se livrar de sentimentos angustiantes e paralisantes. Chega um momento que se torna insuportável lidar com estas perturbações psíquicas e emocionais. Quando a dor fica muito forte, é natural que precisemos de uma intervenção de emergência. A questão é: por que esperar chegar neste momento? Por que esperar quebrar?

 Na verdade, há um outro problema que nos impede de perceber que vamos “quebrar”. A dor ou o sofrimento, por mínimos que sejam, são vistos como manifestações absolutamente indesejáveis que precisam ser caladas, quando deveriam ser vistas como autoconhecimento.

Vivemos num tempo em que as pessoas têm pouca tolerância para a dor e portanto querem ignorá-la ou sufocá-la antes mesmo de compreendê-la e saber a sua origem. Com isto fecham-se portas para o autoconhecimento e inibem-se outras expressões humanas como a empatia, a solidariedade, a saudade e a criatividade.

Por isto defendo que a saúde mental precisa de outro olhar. Ao invés desta obsessão pela erradicação dos sintomas, de se colocar o foco na doença, deve-se buscar o autoconhecimento para se viver uma vida autêntica e plena, dentro do que faz sentido pra cada um. Sem modelos.

O autoconhecimento pode ser incômodo, mas é libertador. Amplia nossas perspectivas para a compreensão do mundo e nos possibilita descobrir as razões do sofrimento, o propósito do nosso trabalho e em última instância, o sentido da vida.


Sobre o autor: Wagner Rodrigues é psicólogo, pós graduado em marketing e comunicação empresarial pela ESPM e MBA com ênfase em gestão de pessoas pela FIA/USP. Por mais de vinte anos ocupou cargos de alta gestão em empresas de diversos segmentos e origem de capital.

Consultor que trabalha com a implantação do programa 4HUMAN, que visa ambientes de trabalho psicologicamente seguros e a integração saudável do ser humano com seu trabalho através de mudanças na cultura organizacional. É autodidata em psicodinâmica do trabalho, atuando como psicoterapeuta de abordagem fenomenológica existencial e logoterapia.

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